quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
domingo, 29 de setembro de 2013
Contos Maus
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domingo, 31 de março de 2013
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sexta-feira, 22 de março de 2013
Leia um Conto de cortesia!
Dizem que o Barriga mantém parte com o albergueiro das
criptas eternas. Até onde sei - e acho que sei o suficiente para torrar um
cristão numa fogueira - o mais próximo que ele já chegou do Arrenegado
foi justamente na madrugada da última sexta-feira, quando nos dirigimos até uma
encruzilhada atrás do cemitério com a intenção de realizarmos um trabalhinho
miúdo, tão miúdo que nem poderia se chamar de trabalho, mas de bico. Você sabe
que o Barriga tem aquelas manias lá dele e, quando encasqueta com algo, o
danado não sossega enquanto não quebra a cara.
Não é novidade para ninguém que o Barriga
anda enfeitiçado pelos salutares atributos da sempre decotada Antonelle, vulgo
Tonha Galinha, ou a Frente-e-Verso, que é a maneira como a boca insidiosa e
peçonhenta da concorrência apelidou a menina. Toda gente sabe como a fama da
Tonha corresponde mui injustamente ao nome que lhe imputam, uma vez que
a moça nada cobra dos felizes convivas habituados aos seus lençóis. Eu, por mim,
penso que se ela tem as carnes quentes e as partes lhe coçam tanto quanto
pimenta salpicada sobre sarna, o melhor mesmo é que se refresque o mais que
puder com quanto varão aguentar o estrado de sua cama. Depois, a Tonha não tem
culpa por ter sido bem prensada pelas forjas caprichosas da natureza, não pediu
para nascer equipada com todos aqueles quilates de gostosura.
De modo que o Barriga acabou me
convencendo a acompanhá-lo naquela aventura lunática. Verdade seja dita que
nunca na vida ele carreara para credos deste naipe e creio que somente apelou a
tais instâncias porque cansou de esperar sentado e assistir impassível ao
Cupido, aquele velhote zarolho de má pontaria, desperdiçar tantas flechas ao
acaso. No mais, ouvira dizer que “despacho sexta à noite atrás do cemitério,
até o capeta leva a sério”. Podia pôr em dúvida este empírico adágio? Aí
estavam o Zé Caneca, o Dito Cana, o Chico Sete-Virtudes, todos eles
macumbadores de sólida carreira e estirpe ilibada, a provar para qualquer um os
incontestáveis poderes de um trabalho bem feito. Nenhum dos três trazia menos
do que um par de amantes sempre à mão para os gastos ordinários da semana, isto
sem contar as esposas titulares, reservadas para os sábados, domingos e dias de
festas.
Diante da farmácia do Ananias, encontrei o
Barriga suando feito uma botija de cerveja gelada, as faces vermelhas como
pecado lascivo, tentando amansar os pulmões sedentos de ar fresco. Trazia numa
das mãos uma sacola murcha e na outra, pendurado de ponta-cabeça pelas pernas espichadas,
um frango preto com ar sonso e levemente desconfiado que aquele passeio
extravagante começava a parecer um tanto suspeito. Estava evidente que o
Barriga vinha de alguma correria vigorosa. Na certa, roubara o animal do
primeiro galinheiro encontrado pelo caminho e tivera de fugir ao trabuco de
algum velhote xucro e egoísta. Nunca entendi como ele, mesmo sendo gordo e nada
aerodinâmico, é capaz de correr ligeiro como uma barata ao sentir cheiro de
chinelo. Nas descidas então, parece uma carroça desgovernada, repleta de
melancias.
Sem perder tempo, seguimos para os lados
do velho cemitério, um sítio inóspito e tão deserto, que a própria solidão
parece caminhar olhando de esguelha. A menos que você queira cometer algum ato
que talvez possa corar os bons costumes se realizado à luz do sol, sob as copas
frescas das aroeiras, não é o local mais recomendado para se fazer visitas,
sobretudo naquelas horas sinistras dos morcegos e gatunos. Não sei dizer
quantos minutos gastamos até chegarmos à encruzilhada atrás do cemitério, mas
não foram muitos, porque nossas pernas adivinharam que vínhamos montados na
garupa do medo e por isso galgaram céleres para o destino concertado. Após
analisar o ambiente com seus olhos amestrados, o Barriga encontrou um lugar
ideal para se armar a macumba, ou seja, bem ao lado de um bueiro, pois ele
disse que o cujo estava cheio de energia. E estava mesmo, uma vez que havia um
fio elétrico partido, pendurado por uma das extremidades lá no alto do poste e
que vinha beliscar perigosamente o gradil do bueiro, feito uma cascavel arisca.
De quando em quando, o vento gelado
resolvia chocalhar os ciprestes, para que eles derrubassem sobre nós aquele
cheiro enjoado de velório. O Barriga abriu sua sacola e meteu-se a espalhar
pela calçada os petrechos da macumba: alguns charutos, meia dúzia de velas fedorentas
e uma imprescindível garrafa de cachaça, além do galo preto, é claro, já
devidamente amarrado para não fugir. O bicho esteve calmo por um bom tempo, mas
quando viu o Barriga apanhando seu possante canivete, ele começou a entender
melhor os sucessos que lhe aguardavam. Creio que a perspectiva de ingressar no
funesto grupo que jazia debaixo da terra, cingida pelos muros do cemitério,
infundiu-lhe tal pavor, que o condenado pôs-se a berrar de maneira alucinada,
deitando as próprias tripas pela goela. De nada adiantou o escarcéu, porque o
Barriga tirou do bolso um providencial rolo de esparadrapo, atando-lhe o bico.
Porém, uma orquestra lúgubre aproveitou a deixa para apresentar seu espetáculo macabro.
Um coral desafinado de animais noturnos entrou a coaxar, trilar, chirriar,
cricrilar, estrilar, dando-nos a impressão de que a qualquer momento um defunto
viria abrir os portões do campo-santo e nos convidar para a festa dos mortos.
Confesso que coragem não se destaca exageradamente no rol de minhas principais
virtudes e tampouco o Barriga pode se orgulhar de possuí-la entre as prendas de
seu temperamento. Aquela atmosfera sinistra, a escuridão pesada e doentia, o
vento arrepiante que nos lambia a nuca com sua língua de gelo, as sombras
mortas que se arrastavam com passos de escorpiões, os fantasmas que espiavam
por cima dos muros do cemitério, tudo isso nos entupia de pavor, deixando-nos
com os cabelos em pé. Muito
me admira que não tivéssemos nos raspado dali, abandonando toda a tralha sobre
a calçada, quando vimos se aproximando um vulto meio capenga por entre a
neblina pardacenta...
Imediatamente,
o Barriga apanhou um pedaço de pau que ele achou no chão e eu, como nada
encontrei que pudesse me servir de arma, tomei em minhas mãos o galo, não sei
bem por quê. Um velho chegou e disse:
-
Boa-noite! Mas que bela galinha...
O galo
fitou-o dos pés à cabeça, com profundo desprezo, como se houvesse sido
ultrajado gravemente em sua masculinidade. Na certa, o homem padecia dos olhos
para confundi-lo daquela maneira com uma fêmea. Tinha sentimentos o pobre
frango e um orgulho viril que estava acima do apoucado entendimento humano.
Depois, o sujeito nos contou uma história deveras complicada, repleta de lances
tristes e comoventes, terminando com estas palavras:
- De
maneira que, se vocês me derem esta garrafa de aguardente, poderei fazer um
fortificante para minha esposa. Talvez ela sobreviva por mais alguns dias...
O Barriga apiedou-se da velhota, tão fraquinha,
que ia sendo devorada viva por milhares de traças famintas em sua cama fria,
forrada por jornais fedidos. De maneira alguma poderia deixar de prestar
auxílio a tão nobre causa. Meu bom Barriga, lembro-me que foi com lágrimas na
face que tu entregaste a garrafa de pinga ao velho necessitado. Ao contrário do
que se poderia imaginar, esta ação magnânima somente valorizou a tua
prejudicada macumba aos olhos condescendentes daqueles sobrenaturais juízes que
giram as rodas tortas do destino. Afinal de contas, enquanto a humanidade
claudica em busca de uma madura fraternidade, tu aí estás para mostrar aos
homens que é através dos pequeninos gestos que nos tornamos realmente grandes.
Pouco depois do macróbio ter desaparecido
na esquina, rindo debochadamente não sei bem de quê, nossos olhos estarrecidos
descobriram um vulto ainda mais funéreo que o primeiro. A névoa tornara-se
muito espessa e por isso mal podíamos distinguir a criatura que caminhava em
nossa direção, desajeitada como uma capivara prenha. Imediatamente, o Barriga
catou um chicote que ele descobriu no chão e eu, como nada encontrei que
pudesse me servir de arma, tomei em minhas mãos o galo, por puro reflexo
condicionado. Uma velha desdentada chegou até nós e disse:
-
Boa-noite! Mas que bela galinha...
O galo encarou-lhe a alma decrépita com
profunda aversão, como se houvesse sido ferido mortalmente em sua virilidade.
Na certa, a megera apresentava catarata em último grau para confundi-lo daquela
maneira com uma fêmea. Depois, a velhota nos contou uma história tristíssima,
repleta de lugares-comuns comoventes, terminando com estas palavras:
- De
maneira que, se vocês me derem estas velas, poderei ler à noite para meu pobre
netinho, que é cego e paralítico. Deus há de iluminar os caminhos de homens tão
dadivosos quanto os senhores...
O Barriga
teve pena daquele entrevadinho miserável e julgou por bem entregar para a
provecta vovó todas as velas que trazia para a macumba. Do jeito que a coisa
estava indo, já não me admiraria se o trabalho não rendesse resultado. De
qualquer forma, mesmo que a Tonha continuasse insistindo em não corresponder na
terra à paixão do Barriga, pelo menos algumas gatas já deveriam estar
reservadas para ele no céu.
Nem bem a
pundonorosa anciã sumiu pela esquina, coaxando de rir com sua boca desdentada
como se mastigasse uma rapadura invisível, um terceiro vulto começou a aparecer
no seio das trevas, digo, do nevoeiro. Era inacreditável como tanta gente
desocupada resolvera caminhar por aqueles rincões desertos logo naquela
madrugada. Imediatamente, o Barriga pegou uma enorme pá de coveiro que ele
achou caída no chão e eu, como nada descobri para me defender, agarrei logo o
galo, que já estava começando a me olhar torto. A princípio, pensamos ser um
anão, mas quando o sujeito chegou ao local em que nos encontrávamos, tivemos a
certeza de que se tratava apenas de um menino esquisito. Após tirar a cabeça do
boné, disse com polidez:
-
Boa-noite! Mas que bela galinha...
Senti o sangue do galo fervendo debaixo
das penas. O animal tremia de ódio, inflamado por uma cólera atroz e imagino
que sua vontade era arrancar a bicadas as vísceras vivas e gotejantes do
pirralho. Deitou sobre o garoto um olhar de extremo nojo pela espécie humana,
como se tivesse sido ofendido de maneira irreparável em seu viripotente poderio
sexual. Na certa, o bastardinho de Satã só podia ser retardado para confundi-lo
daquela maneira com uma fêmea. Depois, o pequeno narrou para a gente uma
história lazarenta, recheada de tragédias comoventíssimas, terminando com estas
palavras:
- De maneira que, se vocês me derem esta
galinha, poderei fazer uma canja pedaçuda para minha avó doente; talvez ela
recupere as forças, adiando um pouco sua definitiva viagem...
O Barriga compadeceu-se daquela idosa
esfomeada, que ia para a cova sem os regalos de um último prato de sopa. No
mesmo instante, arrancou o galo de meus braços, entregando-o ao garoto, que
saiu correndo em disparada pelo mesmo caminho de onde viera. Não é preciso
dizer que também ele levava suas bochechas transbordando em risos maiúsculos,
como um sino que repica satisfeito quando a missa promete ser rendosa.
De modo
que restaram ali na encruzilhada escura somente quatro charutos, eu mais o
Barriga. Até onde entendo sobre despachos - e entendo o suficiente para jamais
pisar numa macumba, estava claro que o trabalho deveria ser transferido para
uma ocasião menos nefasta, não apenas porque aquela gente toda poderia
significar presságio de mau agouro, mas também pela mais completa e absoluta
carência dos acepipes. Seria até mesmo uma descortesia fazer uma oferenda
mixuruca daquelas. Poderíamos ofender a sensibilidade de algum santo mais
suscetível, forçando-o a ter de se abalar até aqueles confins de mundo só para
pitar uns charutos baratos e de mau feno. Além disso, não era totalmente
improvável que nos aparecesse outro pidão, necessitando charutos com urgência
urgentíssima para o diabo que os há de carregar a todos.
Olhei o
Barriga, que coçava a própria, e disse:
- Barriga,
já que estamos os dois aqui, vamos liquidar este peso inútil de uma vez. Você
me dá metade dos charutos e assim já tenho a noite por ganha.
Concordamos
ambos. Em seguida, para passar o tempo, sentamos na calçada, encostados ao muro
do cemitério, e creio que ali permanecemos por cerca de meia hora, fumando e
falando mal da Tonha, falando mal da Tonha e fumando, até que acabou o assunto,
ou os charutos, não me recordo bem. Lembro que o Barriga torcia os beiços dum
jeito tal, que ele soltava baforadas de fumaça em forma de coração, uma coisa de
louco, autêntica obra de arte. Desconheço o motivo pelo qual não ensinam estas
coisas práticas na escola. Depois, com um olhar baboso de girafa satisfeita,
ele ficava observando a sua efêmera criação flutuando tão de mansinho no
remanso das nuvens, como se caminhasse num tapete com meias de feltro. Triste
sina a destas engenhosas esculturas de fumaça, que ousam se misturar aos céus
eternos de Deus, sabendo que serão devoradas pela mais leve brisa da
madrugada.
Quando
resolvemos ir embora, tamanha era a neblina sobre o cemitério, que eu tive a
nítida impressão de que a névoa estava cheirando exatamente como aquelas velhas
festas juninas de minha infância, onde as fogueiras ardiam encantadas. Alertei
o fato ao Barriga, que concordou comigo. Aquilo já não era mais neblina; a bem
da verdade, parecia mais que algum demônio distraído havia se esquecido de
fechar as portas do inferno e, através delas, toda fumarada dos caldeirões
diabólicos estava vazando para a terra. Corremos até a esquina, afobados, e vimos
que lá adiante uma casa pegava fogo. Oh, fatalidade das fatalidades! Oh,
infortúnio dos infortúnios! Aos poucos, as chamas iam pintando as paredes com
fuligem, cuspindo cinzas no céu, bordando de laranja as mangas da noite. Como é
de praxe nas desgraças que calham em locais públicos, rapidamente começou a
juntar em volta do moquiço uma chusma de desocupados, pois todos queriam ver de
perto o circo pegar fogo, que no caso era a casa. Os desocupados iam saindo das
moradias próximas feito formigas, uns devidamente embrulhados em pijamas,
outros apenas de cuecas, outros ainda enrolados em toalhas que apanharam às
pressas para lhes cobrir a nudez. Era impressionante como havia curiosos na
redondeza. Ajudar mesmo, ninguém ajudava. Até um pipoqueiro surgiu Deus sabe de
onde e aproveitou aquela gentalha sádica e enxerida para fazer um troco. Alguns
espíritos suínos na plateia gritavam excitados, apenas para dar um tom mais
dramático à catástrofe. Mas ajudar mesmo, ninguém ajudava.
O Barriga foi apartando o pessoal a fim
de abrir caminho e chegar até a fila do gargarejo. Segui em seu vácuo e, quando
estávamos a três pernadas do incêndio, um grito horroroso escapou pela janela
da casa, mais ou menos como uma salsicha gritaria, caso tivesse boca, ao ser
cozinhada em água fervente. Se há no mundo uma pessoa que não pode ver o
sofrimento alheio é o Barriga. Deixando sua proverbial covardia de lado, pois
os fatos exigiam bravura, no mesmo instante, ele arrancou impetuosamente a sua
camisa, como fosse se transformar no incrível Hulk (ou será que ela apenas se
rasgava no corpo?), e meteu-se impávido entre as chamas do fogaréu crepitante.
Os olhos atônitos da cambada cravaram-se na porta que ele arrombara num único
coice e todos na rua prenderam a respiração, irmanados num silêncio vivo, pois
ninguém queria perder o desfecho daquela diversão gratuita. Depois, fiquei
sabendo que houve até apostas para ver quem acertava o número de mortos que o
Barriga encontraria lá dentro. Um a um, ele foi retirando os infelizes
moradores da casa, que estavam desacordados, muito provavelmente em virtude da
grande quantidade de fumaça ingerida. Em primeiro lugar, o Barriga trouxe uma
velha nas costas, arriada como um saco de mandioca; em seguida, ele surgiu
através da porta carregando um velho mole; depois, trouxe lá de dentro um anão,
digo, um menino esquisito. Mas juro que só me dei conta de quem eram os
desgraçados, quando o Barriga apareceu trazendo nos braços um galo preto...
Não vou perder tempo dizendo que aquelas
pessoas mal cozinhadas no incêndio eram justamente as mesmas criaturas que
pouco antes haviam recebido do Barriga os quitutes destinados à macumba, porque
isto toda gente já deve ter adivinhado. Prefiro repetir as palavras nada
cordiais que a velhota malacafenta grunhiu ao acordar. Nem tinham acabado de
lhe jogar água na cara, a porqueira abriu uns olhos esbugalhados de harpia e
metralhou:
- Foi ele! Foi ele! Este homem é o
culpado pelo incêndio de minha casa!!!
Todas os
narizes apontaram para a direção do Barriga, enquanto que um “ooohhh” de
surpresa correu pelas bocas, lembrando um coral bem ensaiadinho. Neste ínterim,
o velho e o moleque também já haviam recobrado a consciência, de maneira que
aproveitaram para engrossar as estapafúrdias acusações da bruxa:
- Esse
gordo miserável nos deu lixo de macumba! Por isso, nossa casa pegou fogo!
- O suíno
maligno quer atirar nossas almas no garfo do capiroto!
- Essa
galinha preta é a encarnação do berzebu! Morte ao Satanás!
Todos
ouviam boquiabertos aquelas acusações assombrosas. O Barriga permanecia calado,
junto à varanda da casa, único local da habitação que ainda não havia sido
atingido pelas chamas. Como alguns mais exaltados ameaçavam arrancar-lhe os
dentes sem anestesia, o Barriga tomou em suas mãos um pedaço de pau graúdo que
estava encostado numa das paredes da varanda. Neste exato instante, a casa toda
ruiu.
Foi o
suficiente para que a turba exaltada acreditasse de uma vez por todas que nós
queríamos destruir o lar daquela santa família. A voz unânime era que teríamos
de pagar por tamanha perversidade e que não sairíamos dali caminhando com
nossas próprias pernas. Muitos urravam ordens de linchamento e eu realmente
comecei a temer, quando vi que alguns brucutus arrancavam pedaços da cerca e as
transformavam em tochas incandescentes, talvez com a ideia nada simpática de
nos empalar pelo rabo, costume antigo, mas ainda eficaz nestes dias. Até a
Tonha Galinha apareceu no meio da multidão e pôs-se a berrar, desguedelhada,
palavras pouco amorosas:
- Capa o
porco bernento! Capa!...
Vejam como
o destino costura os sucessos humanos com uma linha encerada de fatalidade. A
bem dizer, o fogo principiou mesmo por culpa do galo. Quando ele viu que o
velho afiava suas facas numa pedra de mármore, todo animado, assobiando la
donna è mobile e trazendo os olhos brilhando de apetite, o animal
desembestou numa fuga alucinada dentro da casa, agitando freneticamente as asas
abertas. Em seu desespero, o frango acabou derrubando as tais velas que a
velhota levara ao Barriga, e que estavam queimando sossegadas sobre um pires
colocado em cima da mesa. Quis a fortuna, que ao pé delas se encontrasse aquela
mesma garrafa de cachaça, que seria utilizada como fortificante, mas que não
passou de excelente combustível ao incêndio. O fogo pegou na toalha e daí espalhou-se
faminto por toda a casa. Que culpa tínhamos nós nisso tudo?
É óbvio
que nenhuma, mas nem sempre o óbvio ulula. Dependendo do ponto de vista, há
casos em que ele pode parecer muito pouco evidente. Mas vá explicar isso à
multidão inflamada. De modo que o Barriga apelou para um logro tão antigo
quanto os empalamentos. Apontou um dedo em direção ao céu e gritou:
- Olha um
disco voador descendo ali no cemitério!
Quando o povaréu voltou a atenção para o
local onde estávamos, já nada encontrou. Como aqueles corações de fumaça que se
esvaíram céleres na brisa da madrugada, assim também nós desaparecemos num
piscar de olhos, ocultos pela neblina amiga e embalados pela ligeireza de
nossas pernas alvoroçadas. Verdade seja dita: o Barriga é gordo, mas corre à
beça. E quando estou com medo, modéstia à parte, não lhe fico atrás.
* * *
Gostou do conto?
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quinta-feira, 21 de março de 2013
As Muito Fabulosas Aventuras do Barriga
O que pode acontecer numa
maluca viagem de caminhão, numa inocente partida de bilhar, numa estranha
visita ao dentista? Divirta-se com estas e outras hilariantes aventuras do
Barriga e Jacaré, dois personagens lunáticos, que vivem se metendo nas mais
diversas enrascadas e confusões, como uma malsucedida macumba feita sexta-feira
à noite na encruzilhada atrás do cemitério ou a tentativa de invadir uma casa
“meio assombrada”. E o que dizer daquela extraordinária trama de tirar o fôlego
em que os dois se metem, quando resolvem dar uma de detetives e acabam
descobrindo mais do que deviam...
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quarta-feira, 20 de março de 2013
Contos do Livro
O livro "As Muito Fabulosas Aventuras do Barriga", do escritor José Antonio Martino, apresenta 7 contos de humor muito divertidos:
1) Quase macumba!
2) É meu, sua bruxa!
3) Cala a boca, Joãozinho!
4) Os porcos, a cachaça, o cabrito e a velha muito pelada
5) O defunto queria vingança
6) A casa meio assombrada do Zé Trevoso
7) O incrível caso do colar de diamantes
O livro pode ser adquirido pelo e-mail zenarede@ig.com.br
pelo preço de R$ 15,00
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Além disso, o livro também encontra-se em formato Ebook e pode ser baixado GRATUITAMENTE no Amazon por Membros Prime, ou adquirido por um preço módico. Basta clicar no link abaixo:
terça-feira, 19 de março de 2013
Sobre o livro
Conheçam o livro
"As Muito Fabulosas Aventuras do Barriga"
do escritor José Antonio Martino.
* 160 páginas
* Miolo impresso em papel pólen (creme) 90g
* Capa em quadricromia, laminação fosca e orelhas
* Costurado
* Excelente acabamento
Preço promocional de lançamento:
R$ 15,00
(+ frete R$ 5,00 para todo Brasil)
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As Muito Fabulosas Aventuras do Barriga
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